NOOOOTÍCIA (By Zero Hora)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Maldita greve

Pois com essa greve de roteiristas, baby, já começam a me faltar as falas com que eu me declaro, apaixonadamente, toda manhã; já não andam me ocorrendo as espirituosas frases de efeito que de vinte em vinte segundos marcam o timing de nosso amor; já ameaça ser cancelada a série de pequeninas situações românticas que volta e meia eu armo para te surpreender, baby. E isso é só o começo. Não vai custar nada para ser deflagrada outra greve, a dos técnicos de som – e em pouco tempo não ouviremos mais os sininhos quando trocarmos nossos arrebatados beijos. Esse pernicioso espírito sindical vai contaminar também a categoria dos diretores de fotografia, cuja iminente greve comprometerá a tonalidade adequada para nossos jantares à meia-luz, baby. E o que dizer da greve dos cenógrafos, empobrecendo irreversivelmente o ambiente de motivos florais, espelhos e garrafas de vinho frisante para nossas calientes noches de pasión? E a greve dos dublês, baby, que vai pôr por terra nossos emocionantes finais de semana de escaladas e rapel? Sem falar da greve d... Como, baby? Como assim – desculpa cretina e esfarrapada para cair fora? Eu, filho da puta, baby? Certo, certo: quer saber? Eu entendo. Com a falta de roteiros, só vão nos ocorrer mesmo estes diálogos manjadíssimos, dignos de dramalhão de quinta: você, às lágrimas, me acusando de calhorda, e eu me defendendo com desfaçatez e cinismo. Eu entendo. Não se culpe, baby, está muito acima de nós. É esta greve inoportuna, nada mais. Malditos comunistas.

*Texto retirado do blog Ao Mirante, Nelson!

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